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Quando abri o livro, me deparei
com a dedicatória, eu sinceramente adoro dedicatórias e creio que elas são
necessárias sim, principalmente quando você deu um livro com um
propósito. Eu senti uma surpresa sabe, o tipo agradabilíssima, mas junto
com ela veio o engasgo na garganta, aquela respiração profunda e o coração
acelerado. Eu acabei me lembrando de momentos que jamais terei novamente, de
momentos que foram tão marcantes que visualizo perfeitamente mesmo depois de
tanto tempo.
Não resisti e sai de casa, fui até a nossa antiga rua, andei por
ela reconhecendo cada pedra daquele calçamento, a cada passo eu sentia uma
familiaridade tão absurda que sentia até o cheiro de canela dos nossos incensos,
e cheguei a ver nós de mãos dadas pela calçada para irmos ao cinema. Por mais
que você esteja esperando isso, não, eu não continuei e não parei em frente a
nossa antiga casa, hoje ela ainda tem metade do que eu deixei, mas agora outra
pessoa ajuda a cuidar das minhas plantas e dos meus gatos, outra pessoa prepara
o café e espera para que comam juntos. De mim lá, creio que nem mais lembranças.
Andando de volta pra casa, eu percebi como olhar pra trás era bobo
e sem sentido, como o que eu tinha era mais importante, como a pessoa que eu
tinha era completa, eu vi que eu não precisava ser outra pessoa, podia ser eu
mesma, o que não fui naquele relacionamento, fui alguém que se travestiu do
outro pra agradar.
Assim que entrei pela porta
eu o vi arrumando a mesa do jantar, sorriu pra mim e me fez esquecer minhas últimas
horas, me tirou rapidamente do meu passado, aliás, mais uma vez, e me fez ver
que eu realmente não sou mulher de passados, de lembranças ou de fins, sou mulher
de agoras, de memórias e de começos.
Pegou na minha mão e pediu que eu fechasse a porta, eu
literalmente fechei a porta olhando pela brecha que sumia que realmente eu
tinha deixado para trás, estava livre, estava ali plenamente entregue e limpa
de alma e consciência, estava escrevendo minha história novamente e não
assistindo a ela. Naquele momento se havia dúvidas, elas foram embora.
O livro? Eu peguei, fechei e o deixei bem a vista para que pudesse
lê-lo novamente, porque assim como as lembranças daquela época do meu passado,
ele e sua dedicatória já não significavam mais nada pra mim.
Se eu apaguei ou arranquei a dedicatória? Não! Claro que não,
gosto de ver até, de vez em quando, porque não há sensação melhor do que aquela
em que você tem plena certeza que seguiu em frente.