segunda-feira, 4 de junho de 2018

de agoras, de memórias e de começos.



Eu detesto quando isso acontece, essa história de ficar lembrando do passado, às vezes me vem isso, olhar pra trás, mas eu não sou do tipo que "olha" pra trás, eu estou mais para uma imitação de Lisbeth Salander da trilogia Millennium de Stieg Larsson, ou pelo menos tento ter esse ideal parcial de modelo feminino, ela é o modelo de nova mulher, definida pela indefinição, tirando a parte da vingança, porque ela se vinga... e muito nos livros! 

Mas voltando a mim, encontrei um livro meu, encontrei assim... estava no meu quarto, que é um cômodo de dois metros quadrados com uma infinidade de coisas , esse livro foi o marco do meu desejo de escrever, foi o ponto alto pra que eu sentisse vontade de colocar pra fora todas as futilidades úteis da minha mente. 

Quando abri o livro, me deparei com a dedicatória, eu sinceramente adoro dedicatórias e creio que elas são necessárias sim, principalmente quando você deu um livro com um propósito. Eu senti uma surpresa sabe, o tipo agradabilíssima, mas junto com ela veio o engasgo na garganta, aquela respiração profunda e o coração acelerado. Eu acabei me lembrando de momentos que jamais terei novamente, de momentos que foram tão marcantes que visualizo perfeitamente mesmo depois de tanto tempo.

Não resisti e sai de casa, fui até a nossa antiga rua, andei por ela reconhecendo cada pedra daquele calçamento, a cada passo eu sentia uma familiaridade tão absurda que sentia até o cheiro de canela dos nossos incensos, e cheguei a ver nós de mãos dadas pela calçada para irmos ao cinema. Por mais que você esteja esperando isso, não, eu não continuei e não parei em frente a nossa antiga casa, hoje ela ainda tem metade do que eu deixei, mas agora outra pessoa ajuda a cuidar das minhas plantas e dos meus gatos, outra pessoa prepara o café e espera para que comam juntos. De mim lá, creio que nem mais lembranças.

Andando de volta pra casa, eu percebi como olhar pra trás era bobo e sem sentido, como o que eu tinha era mais importante, como a pessoa que eu tinha era completa, eu vi que eu não precisava ser outra pessoa, podia ser eu mesma, o que não fui naquele relacionamento, fui alguém que se travestiu do outro pra agradar.

 Assim que entrei pela porta eu o vi arrumando a mesa do jantar, sorriu pra mim e me fez esquecer minhas últimas horas, me tirou rapidamente do meu passado, aliás, mais uma vez, e me fez ver que eu realmente não sou mulher de passados, de lembranças ou de fins, sou mulher de agoras, de memórias e de começos.

Pegou na minha mão e pediu que eu fechasse a porta, eu literalmente fechei a porta olhando pela brecha que sumia que realmente eu tinha deixado para trás, estava livre, estava ali plenamente entregue e limpa de alma e consciência, estava escrevendo minha história novamente e não assistindo a ela. Naquele momento se havia dúvidas, elas foram embora.

O livro? Eu peguei, fechei e o deixei bem a vista para que pudesse lê-lo novamente, porque assim como as lembranças daquela época do meu passado, ele e sua dedicatória já não significavam mais nada pra mim.

Se eu apaguei ou arranquei a dedicatória? Não! Claro que não, gosto de ver até, de vez em quando, porque não há sensação melhor do que aquela em que você tem plena certeza que seguiu em frente.


Diakova