É, mais uma vez eu recebi hoje “aquela” sacola com minhas
coisas, são outros objetos, claro, mas com o mesmo significado, “aquelas”
coisas que a gente deixa na casa dela de propósito, que mesmo ela sendo super
organizada deixa você colocar suas coisas onde quiser, “aquela” sacola com “aqueles”
objetos que você talvez nunca mais consiga usar porque vêm com tanto
significado que é impossível até de revalidar o valor deles. Objetos que você comprou
ou usou pensando nela, por ela e para ela, claro que não é o mais adequado
fazer isso, mas eu chamo de entrega, ou pelo menos, a tentativa dela, eu chamo
de recomeçar, reescrever, reinventar.
Aqui sentado em frente à sua casa, depois de você friamente,
ou aparentemente, me entregar minhas coisas estou pensando como tudo aconteceu,
como eu fui deixar acontecer, como eu não percebi por onde estávamos indo, me
pergunto porque que eu não falei, porque que eu joguei em você a
responsabilidade de me entender e pronto.
Estou aqui sem coragem de andar pra casa, ou de olhar
novamente para o seu portão, até a calçada me faz lembrar dos comentários sobre
as sandálias que você usava a cada encontro nosso e que eu olhava para baixo
para acompanhar o seu raciocínio, sem entender bem, mas prestar atenção ao que você
falava já era o suficiente pra mim, eu era seu espectador. E estou mais sem
coragem porque daqui dá pra ver no outro lado da rua o restaurante em que nos
encontramos a primeira vez, lembro que só tínhamos nós quando chegamos, e que
lotou e depois esvaziou, e nós lá, conversando, eu claro falava sem parar e você,
na maioria das vezes, deixava de falar para me ouvir, não era egocentrismo, era
só nervosismo mesmo, porque você era e é do jeito que eu pedi em minhas
orações.
Você ainda vai continuar o sendo o meu modelo ideal de
pessoa, de mãe, de amiga, mas não mais a terei em meus braços, não a sentirei
tremer de frio no cinema, ou apertar minha mão quando uma cena te assustava, não
vou mais olhar você no meu sofá assistindo com toda seriedade a seus filmes
chatos, nem vou mais esperar que você me toque ou me faça carinho, algo que
sempre foi tão escasso pra mim, não vou mais tocar nos seus cabelos, e até olhá-los
para mim será estranho agora, não irei mais perguntar como você está toda hora,
juro, eu acho que se a decisão foi sua de ir, eu tenho simplesmente que deixar,
eu sinto que você me ama, sua cara ao apenas me entregar minhas coisas e já
voltar sem me dá chance de um abraço me disse que você estava prestes a
desabar, mas eu respeitei.
Ainda estou aqui olhando agora de frente pra sua casa, lugar
onde passei os melhores e piores momentos da minha vida nos últimos dias, lugar
em que pude fazer planos novamente mas que agora eles já não são mais seus
planos.
Esses objetos não são mais meus, eles são da nossa história,
que também não se acabou, ela está lá, em algum lugar bom, algum lugar em que
ela vale a pena, está na minha lembrança e na sua, tenho certeza, está marcada.
Esses objetos também não tem mais sentido pra mim, eles foram batizados na
nossa história, foram feitos pra ela, estavam dentro dela literalmente, essa
sacola representa muito pouco da bagagem que deixei na sua casa, representa
pouco do que eu gostaria de deixar ainda, mas que não deu tempo.
Não sei quando chegar em casa e tiver que desembalar e me
deparar com coisas que eram tão familiares na sua casa, parece que delas saem
palavras, saem sentimentos, a acho mesmo que saem. Talvez essas coisas fiquem
num canto do meu quarto por dias, ou talvez eu guarde ou dê fim a tudo, mas de
uma coisa eu tenho plena certeza, elas serão pesadas, serão carregadas pra
sempre com o sentimento que dei a você. Serão como amuletos de amor, como
passes para uma liberdade compartilhada, mas também serão símbolos de tristeza
e de fracasso. Não me veja como pessimista, é que, às vezes, você simplesmente
fracassa, normal, você volta, recomeça e faz mais uma vez a vida valer a pena,
mas sabe que “aquela” sacola vai está sempre ali, dizendo que um dia você foi
tudo que eu quis pra mim.
Diakova
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