domingo, 27 de dezembro de 2015


Sempre que eu parava pra ler me imaginava na história.
Tudo que acontecera ali dentro daquele livro era comigo, era capaz de ler horas a fio, sem me preocupar com o que tinha de fazer depois.

Por um bom tempo me tiraram esse prazer, de forma assassina e cruel, mas devagar, sem que eu percebesse. Os livros se tornaram cada vez mais distantes, mais ilegíveis, a paz rara, o barulho insuportável dos dias, já não me deixava mais fazer parte de nenhuma das histórias que eu lia.

Junto a isso, ninguém me ouvia, ninguém me via, eu não estava ali, me sentia sufocada por não me enxergarem, era tanta liberdade que me aprisionava em pensamentos de não querer mais estar ali. Era domada, podada todos os dias, sem reclamar, pois o medo me deixava muda.
Que papel eu tinha? Comecei a me perguntar.
Qual era o sentido da minha vida ali?.

Foram me matando, retirando partes de mim. O sorriso não, mas o brilho sim. A liberdade não, mas a voz sim. A vontade não, mas a felicidade sim.

Hoje, das partes que sobraram de mim, há uma vida ainda sem sentido, mas ainda tenho vida, e sei que a vida em si não tem um sentido próprio, nós é que temos que sentir cada momento dia após dia, minuto após minuto e criar seu sentido, dar um motivo pra seguir, motivo próprio, seu, independente.
Nascemos só e morreremos só. Mas podemos entre o nascer e o morrer, viver, contemplar e compartilhar uma vida de amor.

Ser ouvida? Hoje sou. Sou amada, sou solicitada, sou cuidada.
Se voltei a ler? Sim, sou uma leitora voraz. Leio, viajo, devaneio, sigo dentro dos livros, vivendo a história deles na minha.
Vivo hoje, viva.

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