Quando
eu cheguei ele já estava, vi pelo vidro que dividia as duas salas de entrada da
recepção do prédio.
Estava distraído e não me viu, me aproximei, toquei em
seu braço e ele num sobressalto virou e me olhou, meio sem graça me
cumprimentou, sem beijinho ou uma manifestação maior de afeto, apenas seu olhar
me parecia acolhedor.
Saímos do prédio e caminhamos pela rua até um bar
próximo, pedi uma cerveja e ele também, nos sentamos e ficamos por alguns
segundos sem nos falar, apenas nos olhando enquanto bebíamos os primeiros goles
da cerveja. Até que ele tocou na ponta dos meus dedos que estavam sobre a mesa
esticados quase tocando nele. Um toque, só isso, mas foi a conexão que eu
precisava, certamente ele não percebeu, mas meu corpo tremeu e eu percebi o
quanto sentia falta daquele toque, não era estranho nem desconhecido, tinha ar
de novidade e de nostalgia, difícil dizer.
Ele
colocou a cerveja na mesa, eu também, e começamos a conversa com um perguntando
como o outro estava, depois, partimos pra parte da conversa em que mais ficamos
calados que falando, os olhares diziam que nos amávamos ainda e o quanto um
faltava pro outro, o quanto nossa história não havia acabado e o quanto de
novidades estavam por vir. Até que começamos a conversar e falar cada um de sua
vida, falamos das lembranças, de situações engraçadas que passamos e do que tínhamos
saudade, foi ai que ele me falou que
existem pessoas que são diferentes, mas que se amam, e nós somos assim.
Essa
frase entrou na minha cabeça como uma bala de canhão, se é que isso pode ser
uma comparação plausível, foi um impacto muito forte ouvi-la, foi ai que eu
percebi o quanto sou imatura ainda, o quanto ele me ensinava lições e o quanto
era enriquecedor ser dele. Essa frase pra mim foi como dizer que eu não percebi
suas diferenças ou não as aceitei, foi mais um ensinamento dele pra mim, e foram
mais palavras que me machucaram por dentro, mas me fizeram crescer mais uma
vez.
Eu
parei pra pensar o quanto somos indiferentes e egoístas em nossos
relacionamentos, o quanto damos importância a coisas pequenas e deixamos os
grandes momentos de lado, pensei em como eu poderia me culpar, ou desculpar do
que havia acontecido a nós. E sim, bateu uma dúvida imensa das certezas que eu
tinha sobre o que eu queria de fato. Porque eu sei que da primeira vez eu quem
não quis, da segunda também, fingi que não estava ali. E hoje ver aquele homem
sorrindo pra mim, perto de mim, me falando palavras que quero ouvir era quase
algo inalcançável, mas estava acontecendo.
As
vezes, temos a mania de idealizar tudo, pensar em tudo e até planejar tudo que
irá nos acontecer, mas não, não será assim, as coisas irão acontecer como tem
que ser, baseado no que fizemos nos momentos anteriores. Eu posso até estar
enganada novamente, mas tenho certeza de que não tenho dúvidas, eu quero ele
pra mim.
Apesar
de meio sem graça, eu não estava com um estranho, eu tinha tudo que eu queria
bem ali, na figura dele, nos olhos dele. Em um momento ele me olhou e com muita
serenidade me falou o quanto gostava de mim, minha vontade era abraçá-lo bem
forte, mas me contive, não sabia se era apropriado. Na minha frente estava aquele
homem que sempre foi tão especial pra mim e que agora não era mais meu, não por
inteiro.
Quando
terminamos, não por falta de assunto, mas pelo tempo, caminhamos mais um pouco,
ele tocou minha cintura, eu toquei a dele, depois peguei seu braço e ali parecíamos
mais uma vez um casal apaixonado e despreocupado, meu coração pulava de
ansiedade e minha cabeça quase explodia com mil pensamentos, no ponto de
despedida, ele me abraçou e me beijou, um beijo quente, dividido em dois,
devagar, familiar. Como pode ser, será que é possível voltar a um mundo mágico
mais de uma vez? Será que podemos nos permitir vivenciar momentos que nós
deixamos para trás? Não sei, mas depois daquele beijo senti que talvez sim, que
poderia ser feliz novamente e que ele poderia ser meu motivo de felicidade. Ele
poderia me devolver toda a mágica que foi amá-lo. Ele poderia concertar tudo e
juntar os pedaços que eu deixei na partida. Entes de ir embora ele me olhou nos
olhos e me pediu que pensasse, que queria muito, mas que dependia de mim, da
minha certeza. Mais um abraço e foi embora.
Fiquei
olhando ele partir, de costas, andando devagar, parecia leve, mas senti que o
deixava ir, que ele escapava, se ia de mim. Senti que seria a última vez, e que
a nossa conversa tinha sido uma dívida paga por ele depois de tanta insistência
minha, afinal, ele parecia bem sem mim, parecia ter superado, mas não dei
margem a esse pensamento. Eu, na minha impulsividade o que eu queria era ir com
ele, mais uma vez, mas não fui, segui meu caminho, fui embora também. O que
ficou foi uma certeza, que nos amamos ainda, que precisamos um do outro, mas
que o momento não é agora, talvez já tenha passado, talvez não chegue nunca.
Diakova
ótimo texto
ResponderExcluirObrigada... sempre.
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