segunda-feira, 6 de junho de 2016

Há pessoas que são diferentes, mas se amam, e nós somos assim.

Quando eu cheguei ele já estava, vi pelo vidro que dividia as duas salas de entrada da recepção do prédio.
Estava distraído e não me viu, me aproximei, toquei em seu braço e ele num sobressalto virou e me olhou, meio sem graça me cumprimentou, sem beijinho ou uma manifestação maior de afeto, apenas seu olhar me parecia acolhedor. 

Saímos do prédio e caminhamos pela rua até um bar próximo, pedi uma cerveja e ele também, nos sentamos e ficamos por alguns segundos sem nos falar, apenas nos olhando enquanto bebíamos os primeiros goles da cerveja. Até que ele tocou na ponta dos meus dedos que estavam sobre a mesa esticados quase tocando nele. Um toque, só isso, mas foi a conexão que eu precisava, certamente ele não percebeu, mas meu corpo tremeu e eu percebi o quanto sentia falta daquele toque, não era estranho nem desconhecido, tinha ar de novidade e de nostalgia, difícil dizer.

Ele colocou a cerveja na mesa, eu também, e começamos a conversa com um perguntando como o outro estava, depois, partimos pra parte da conversa em que mais ficamos calados que falando, os olhares diziam que nos amávamos ainda e o quanto um faltava pro outro, o quanto nossa história não havia acabado e o quanto de novidades estavam por vir. Até que começamos a conversar e falar cada um de sua vida, falamos das lembranças, de situações engraçadas que passamos e do que tínhamos saudade, foi ai que ele me falou que existem pessoas que são diferentes, mas que se amam, e nós somos assim.

Essa frase entrou na minha cabeça como uma bala de canhão, se é que isso pode ser uma comparação plausível, foi um impacto muito forte ouvi-la, foi ai que eu percebi o quanto sou imatura ainda, o quanto ele me ensinava lições e o quanto era enriquecedor ser dele. Essa frase pra mim foi como dizer que eu não percebi suas diferenças ou não as aceitei, foi mais um ensinamento dele pra mim, e foram mais palavras que me machucaram por dentro, mas me fizeram crescer mais uma vez.

Eu parei pra pensar o quanto somos indiferentes e egoístas em nossos relacionamentos, o quanto damos importância a coisas pequenas e deixamos os grandes momentos de lado, pensei em como eu poderia me culpar, ou desculpar do que havia acontecido a nós. E sim, bateu uma dúvida imensa das certezas que eu tinha sobre o que eu queria de fato. Porque eu sei que da primeira vez eu quem não quis, da segunda também, fingi que não estava ali. E hoje ver aquele homem sorrindo pra mim, perto de mim, me falando palavras que quero ouvir era quase algo inalcançável, mas estava acontecendo.

As vezes, temos a mania de idealizar tudo, pensar em tudo e até planejar tudo que irá nos acontecer, mas não, não será assim, as coisas irão acontecer como tem que ser, baseado no que fizemos nos momentos anteriores. Eu posso até estar enganada novamente, mas tenho certeza de que não tenho dúvidas, eu quero ele pra mim.

Apesar de meio sem graça, eu não estava com um estranho, eu tinha tudo que eu queria bem ali, na figura dele, nos olhos dele. Em um momento ele me olhou e com muita serenidade me falou o quanto gostava de mim, minha vontade era abraçá-lo bem forte, mas me contive, não sabia se era apropriado. Na minha frente estava aquele homem que sempre foi tão especial pra mim e que agora não era mais meu, não por inteiro.  

Quando terminamos, não por falta de assunto, mas pelo tempo, caminhamos mais um pouco, ele tocou minha cintura, eu toquei a dele, depois peguei seu braço e ali parecíamos mais uma vez um casal apaixonado e despreocupado, meu coração pulava de ansiedade e minha cabeça quase explodia com mil pensamentos, no ponto de despedida, ele me abraçou e me beijou, um beijo quente, dividido em dois, devagar, familiar. Como pode ser, será que é possível voltar a um mundo mágico mais de uma vez? Será que podemos nos permitir vivenciar momentos que nós deixamos para trás? Não sei, mas depois daquele beijo senti que talvez sim, que poderia ser feliz novamente e que ele poderia ser meu motivo de felicidade. Ele poderia me devolver toda a mágica que foi amá-lo. Ele poderia concertar tudo e juntar os pedaços que eu deixei na partida. Entes de ir embora ele me olhou nos olhos e me pediu que pensasse, que queria muito, mas que dependia de mim, da minha certeza. Mais um abraço e foi embora.

Fiquei olhando ele partir, de costas, andando devagar, parecia leve, mas senti que o deixava ir, que ele escapava, se ia de mim. Senti que seria a última vez, e que a nossa conversa tinha sido uma dívida paga por ele depois de tanta insistência minha, afinal, ele parecia bem sem mim, parecia ter superado, mas não dei margem a esse pensamento. Eu, na minha impulsividade o que eu queria era ir com ele, mais uma vez, mas não fui, segui meu caminho, fui embora também. O que ficou foi uma certeza, que nos amamos ainda, que precisamos um do outro, mas que o momento não é agora, talvez já tenha passado, talvez não chegue nunca.


Diakova




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